http://www.oabrj.org.br/materia-tribuna-do-advogado/15597-pesquisa-aponta-que-cliente-e-o-principal-fator-de-estresse-entre-advogados
O relacionamento com o cliente é a maior fonte de estresse entre os advoga dos, assinalada por 82,6% dos 702 profissionais que participaram da pesquisa realizada pela psicóloga carioca Fátima Antunes, mestre em Psicologia Social com pósgraduação em gestão de recursos humanos e especialista em gerenciamento do estresse pela International Stress Management Association – BR, entidade voltada à pesquisa e ao desenvolvimento da prevenção e do tratamento de estresse no mundo. A sobrecarga de trabalho vem logo a seguir, com 77,9% dos registros.
Fruto de dissertação feita pela autora para a Universo (Universidade Salgado de Oliveira), o estudo, segundo a psicóloga, é o primeiro a ser realizado no Brasil tendo como foco o estresse em advogados. O objetivo de Fátima foi investigar o poder preditivo (gerador de determinadas reações) de fontes potencialmente estressoras no trabalho – latitude de decisão, demandas psicológicas e físicas, relacionamento com cliente, suporte social de colegas e insegurança – na insatisfação, na depressão e em problemas psicossomáticos, principais sintomas associados ao estresse laboral. Em outros países, pesquisas sobre essa categoria profissional são realizadas desde os anos 80.
Utilizando um questionário em um site criado especialmente para a finalidade, a coleta de informações compreendeu o período de fevereiro a maio deste ano, e sua veiculação nos portais da OAB/RJ, do Conselho Federal e de outras seccionais contribuiu para ampliar a amostragem e abranger outras regiões do país, embora o Sudeste tenha representado 84% das respostas, conta Fátima.
O fato de seu trabalho estar diretamente relacionado ao atendimento do interesse do cliente explica que este seja o fator maior de estresse, diz a psicóloga. A necessidade de satisfazê-lo é vista como um desafio por 53,3%, e 77,5% consideram sua hostilidade e o abuso como um fator estressor.
No que se refere à insegurança, a pesquisa a confirma como fonte de estresse ocupacional para os advogados, tal como ocorre em diversas carreiras, relata a especialista. Entre os que participaram, 42,6% percebem sua profissão como instável, não lhes oferecendo oportunidades de ascensão.
A análise dos dados mostra que a possibilidade de decidir, ter autonomia no trabalho e usar as habilidades individuais – situação de 79,9% dos advogados – não é percebida como uma fonte de estresse. Além disso, os profissionais que contam com a possibilidade de maior uso de suas habilidades e de poder decisório sentem-se mais satisfeitos com seu trabalho e menos deprimidos.
Em relação à sobrecarga laboral, Fátima explica que aí se incluem itens associados à demanda psicológica, como o ritmo frenético, as atividades repetitivas, sua frequente interrupção, a espera pelo trabalho de terceiros, a quantidade de horas dedicadas e o volume de tarefas, além da necessidade de concentração na sua realização. "Assim como apontam as pesquisas com advogados nos Estados Unidos, a sobrecarga é uma importante fonte de estresse", informa. Aqui, o tempo dedicado ao trabalho é de cerca de 50 horas semanais para os homens e 46 horas semanais para as mulheres, não incluídas as dedicadas a estudos e pesquisas.
O estudo aponta que as mulheres apresentam 11% a mais dos sintomas relacionados a questões psicossomáticas do que os homens, "o que pode estar relacionado à dupla ou tripla função feminina na sociedade atual", segundo a psicóloga, e ao fato de elas vivenciarem "maior estresse, por serem mais impactadas pelos sentimentos de falta de tempo para a família".
Em relação à insatisfação no trabalho, 7,3% disseram estar muito satisfeitos, 44% satisfeitos, 38,9% insatisfeitos e 9,8% muito insatisfeitos. Quase a metade, 48,6%, escolheria novamente a profissão. Associando-se estes dados com a faixa etária, o estudo mostra que os advogados com mais idade sentem-se mais satisfeitos, possivelmente em razão de já possuírem uma carreira estabilizada financeiramente.
Para a especialista, merece destaque o fato de que 75,6 % dos profissionais relataram algum tipo de problema psicossomático, "o que sugere tratar-se de uma atividade tão estressante ou ainda mais do que a dos juízes", diz, referindo-se a uma pesquisa que apontou, entre estes, 71% com sintomas associados ao estresse. A depressão, outro ponto analisado no estudo, apresentou um índice de respostas associadas ao problema por 26,5% dos advogados.
Entre os que responderam ao questionário, 31,4% informaram ter, frequentemente, algum tipo de reação psicossomática (ver tabela ao lado). A psicóloga afirma que se por um lado o estresse da profissão é inevitável, é "absolutamente possível o seu controle, dependendo exclusivamente da determinação pessoal, da autodisciplina, da melhor administração do tempo e especialmente do autoconhecimento e da autopercepção dos seus efeitos na vida e na carreira".
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